domingo, 3 de janeiro de 2010

revisito-me II


A vida acontece às portas alheias. Nas luzes acesas na noite, no telefone que toca na casa do lado. Nos sorrisos que não sei. Nas tristezas que nem sinto.
Teimosa, uma lágrima escorre pelo silêncio, toca-me os lábios, que se abrem ao seu sal. Aconchego-me ao corpo e subo para a noite.
As escadas rangem.
Paro, param.
Subo, gemem.
Sofrem comigo o peso de uma solidão que é minha.
Luzes pontilham a cidade que se estende. Embora oculto na escuridão, sei o mar ao fundo. Vim aqui algumas vezes, logo pela manhã, bem cedo, e a sós com o azul intenso, fiz a prece pela vida. Cansados, os barcos regressavam do amor violento e, à sua espera, gaivotas dançavam a saudade desfeita.
Mas a hora é tardia e a cidade descansa. Os barcos entregam-se às carícias; as gaivotas dormem cuidados. Eu não sou.
Desço. As escadas dizem-me que a solidão mata. Nada sentira a minha falta. Deito-me na casa que não me espera, abraço-me ausência e os amores perdidos parecem mais próximos.
Menos irremediáveis.
.
.

Ser de nenhures, revivo o tempo que aqui ecoa.

2 comentários:

  1. de passagem, para te desejar um bom ano e para te dar, uma vez mais, os parabéns. o blog está uma beleza.
    voltarei aqui, um destes dias, para uma leitura vagarosa das tuas palavras. aqui e nas tuas outras casas...

    um abraço muito grande.

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