quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

tempos modernos


Ela canta, pobre ceifeira,
Julgando-se feliz talvez;
Canta, e ceifa, e a sua voz, cheia
De alegre e anónima viuvez,

(...)

Ah, poder ser tu, sendo eu!
Ter a tua alegre inconsciência,
E a consciência disso! Ó céu!
Ó campo! Ó canção! A ciência

Pesa tanto e a vida é tão breve!
Entrai por mim dentro! Tornai
Minha alma a vossa sombra leve!
Depois, levando-me, passai!

Fernando Pessoa, excerto de "Ela canta, pobre ceifeira"

4 comentários:

  1. ai, quem me dera cantar como a ceifeira, mas ser eu, também! como é impossível, vou escavando o meu buraco, a toda a velocidade.ceifando a alta velocidade. os tempos modernos não se compadecem das almas sonhadoras.há demasiada velocidade e os meus passos são demasiado curtos. não encontro o meu lugar na linha de (des)montagem.

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  2. Eu sei, sim, do que falas... aliás, conversámos há tão pouco tempo sobre, daí a ironia da ceifeira:) Mas olha, ballerina, cantemos como a ceifeira, conseguimos fazê.lo sem que nos percamos. Precisamos é de criar um espaço para vingarmos. O Atril talvez possa ser um princípio. Senão, olha, resta-nos sempre a sugestão do Woody Allen;) ainda rendia uns trocos, essa é que é essa.

    Abraço e até breve.

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  3. Eh pah... agora que reli o comentário vi ali o 'senão'... parece mesmo que devia estar separado, mas não, está certo assim.

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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